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Especialistas alertam para aumento da obesidade no ES e pedem ampliação de Programa de Bariátrica no SUS

Os médicos André Mattar, Gustavo Peixoto e Tarcisio Zovico. Foto: Divulgação

A obesidade atinge milhões de pessoas ao longo do mundo e é considerada uma doença crônica e sem cura que precisa de acompanhamento e cuidados ao longo de toda a vida do paciente. No último dia 4 de março foi comemorado o Dia Mundial de Combate à Obesidade e para falar sobre este assunto o Tempo Novo acompanhou um trio de especialistas renomados.

Os médicos Gustavo Peixoto, que é coordenador do Programa de Cirurgia Bariátrica do Hospital das Clínicas e também professor da Ufes; Tarcísio Zovico, do Hospital Evangélico de Vila Velha e André Matar, do Hospital Evangélico de Cachoeiro fizeram uma live para falar sobre os desafios e dificuldades dos cirurgiões e do atendimento às pessoas com obesidade mórbida durante a pandemia da Covid-19.

Os três lidam com cirurgias bariátricas no Sistema Único de Saúde em seu dia-a-dia e contam que a pandemia mostrou como emagrecer é importante. “Os efeitos da bariátrica são altamente positivos para o desfecho da Covid-19 e não somente esta enfermidade, mas também para outras e para qualidade de vida do indivíduo”, comentou Gustavo Peixoto que também falou da carência deste tipo de serviço no Norte do ES.

“O Sul, a região metropolitana tem atendimento especializado. No Norte é necessário um Programa de Bariátrica do SUS pois a população que sofre com obesidade mórbida tem altos gastos para ter atendimento em Vitória, gasto de perda de um dia de trabalho, transporte, risco da estrada. Esta região está desprovida deste tipo de atendimento e é necessário que esse serviço seja implantado o mais rapidamente possível”, disse Gustavo.

Já Tarcísio Zovico revela que alguns pacientes principalmente os que possuem doenças metabólicas como hipertensão, diabetes, colesterol, triglicerídeos, apneia do sono entram no hospital antes da cirurgia fazendo uso de muitas medicações e conseguem sair praticamente sem elas ou pelo menos com a metade delas.

“Com 30 dias, o paciente chega a perder 10% do peso.  Isso impacta bastante na melhora das comorbidade. Na cirurgia bariátrica e metabólica a gente busca mais doença do que propriamente peso. O paciente fica muito preocupado com o peso e o médico com a doença. As doenças que realmente trazem um malefício muito grande para a saúde com 30 dias já mostram melhora, como é o caso da hipertensão e do diabetes”.

E completou que existem tipos de obesidades e que todos os pacientes são avaliados de acordo com suas particularidades. “Adolescentes muito pesados com 140/150 quilos – são doenças diferentes daquele obeso que tem 90/100 quilos.  São abordagens diferentes. A cirurgia é parte de um processo, não cura, é a ferramenta mais forte, mais contundente, de maior impacto, mas que precisa de acompanhamento tanto nutricional, atividades físicas, mudanças de hábitos, emocional que é determinante na vida dos indivíduos. Tem que ter acompanhamento multidisciplinar”.

Os médicos que também atuam na rede privada de saúde no ES, contaram ao TN que no SUS acaba chegando pacientes mais graves e que estes ficaram muito prejudicados com a pandemia. “Em 2020 as cirurgias foram suspensas por alguns meses. No Hospital das Clínicas fazíamos média de 200 procedimentos em 2019 – caiu para 50 em 2020 e em 2021 conseguimos fazer 100 cirurgias”, destaca Gustavo Peixoto.

Tarcisio afirmou que infelizmente o SUS retornou tardiamente com as cirurgias eletivas do que o ambulatório da clínica privada. “Essa demora impactou bastante, temos pacientes muito pesados na lista de espera. E a gente faz um serviço para que eles percam peso para fazer uma cirurgia mais segura e ficamos este tempo sem sequer poder atendê-los, o que impactou demais. Hoje a bariátrica é uma cirurgia eletiva essencial, está mais do que provada a segurança da cirurgia e os benefícios que traz aos pacientes. Quando fomos impedidos pelas circunstâncias de não operar, muitos deles perderam a validade de exames, ganharam peso, ou seja, estamos tendo que começar do zero”.

André Mattar do Evangélico de Cachoeiro classificou o período da pandemia sem as cirurgias eletivas como desesperador. “Em Cachoeiro foi desesperador, ficamos de março a novembro sem operar e sem atender ambulatório. Aqui tinha CTI, enfermaria de Covid e foi impossível fazer o atendimento. Impactou muito nos doentes, porque perderam a validade do exame, tiveram que retornar do início o preparo, isso atrapalhou e bagunçou muito a fila de espera. Até conseguirmos botar tudo em ordem foi muito difícil. Usamos bastante a telemedicina para tentar atendê-los e orientá-los. Muitos estavam com a cirurgia marcada e agora tiveram que começar do zero novamente”.

Gustavo ponderou também que exames como endoscopia e ultrassom ficaram caros e por conta da pandemia aumentou a dificuldade de fazer os exames novamente pela rede pública,

Durante a pandemia da Covid-19 os brasileiros ganharam peso, uma média de 6,5 e isso impactou também os pacientes que aguardavam cirurgia. “Muitos dos pacientes que esperam por uma cirurgia tiveram reganho de peso por deixar de fazer atividade física, por ter ficado mais sedentário. O papel da cirurgia bariátrica e metabólica atua para auxiliar no controle de uma doença crônica que é a obesidade. O paciente fica ali com aquela doença durante toda a vida, existe controle, mas cura, não se pode dizer que há. A cirurgia age no controle, ao lado de uma série de outra indicações”, explica Tarcísio.

André reclama da falta de políticas públicas para evitar que mais pessoas entrem nesse grupo. “Faltam políticas de saúde que visem combater a obesidade, uma doença que é associada a várias outras que impactam na qualidade e na quantidade de vida. Quem é obeso vive menos e pior, por isso combater é necessário, principalmente a obesidade infantil. Ideal seria que essas campanhas começassem desde cedo, para que não tivéssemos que operar tantos pacientes. O SUS não dá conta, é assustador. A quantidade de adolescentes que chegam para gente atender, é enorme e tudo isso pode ser evitado”.

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